Diz que de certa feita, em um mundo que, possivelmente, seja um paralelo ao nosso, um garotinho vivia em um povoado “abandonado”. Os poderosos não davam bolas para este. Na realidade, davam. Quando precisavam “se acalmar”, escolhiam alguém daquele vilarejo para “saco de pancada”. Era triste, mas era real. O poder sempre acaba por atrair tais abusos.
Mas, bem sabemos, humanos não são de ferro. Aliás, se fosse para escolher um metal, eu diria que somos de alumínio… Um dia, este menino estourou em uma fúria alucinada. E, como também bem sabemos, a fúria tende a ruir do lado mais fraco…
Depois de ser espancado, engolindo toda aquela raiva e simplesmente “aceitando”, ele saiu desnorteado a rumar pelas ruelas vazias. Lá, ele viu um cachorro tremendo de frio e latindo para ele. Raiva contida estoura. E estourou no cão.
O garoto, num ataque de pura ira, espancou o cão. O coitado falece, mas o menino nem está. “Foda-se, eu sofro também!” pensava ele. O pobre animal era somente um objeto, uma coisa na qual ele poderia dispersar toda a sua indignação para com o mundo exterior, que tão brutalmente o esfarelou e o deixou nos cacos que agora abusavam de tal criatura. Mas ele não queria saber…
No outro dia, o seu dia chegou. Ele fora o alvo de uma raiva contida, e o que ele fez no cão, também foi feito nele. A dor que ele sentiu ele lembrou que fez o cão também sentir. O chute que lhe feria as costelas foi o mesmo que ele deferiu no animal. O olhar de súplica que ele lançava ao ar, era o mesmo que o cão lançou para o seu agressor. Seu assassino. E foi assim que o garoto morreu.
Mas, nesse possível plano, as almas são cíclicas, e o que ontem era um menino, hoje é uma aranha. Uma bela aranha, aliás! Daquelas que você vê e não sabes se temes ou se admiras. Daquelas que são tão, mas tão atraentes, que os colecionadores teriam prazer em coletar e manter vive, como espécime. Mas também há os maus… E o mundo é feito de ações e reações…
Em uma de suas caçadas, em belo pátio, e aranha se defronta com um humano. Ela conhecia aquele olhar. Sim. Era aquele mesmo olhar que ela apagou a tanto tempo atrás. Claro! Como esquecer de um espelho tão singular? Eram os olhos de sua presa. E agora, o papel inverteu.
A aranha se encolhe, esperando o golpe mortal, mas o que recebe é um golpe na consciência. O homem, a pega, e a move. Simplesmente a retira da proximidade de sua filha, que brincava no pátio e estava acuada com a forma daquele criatura.
E, naquele momento, a aranha percebeu o que fizera. Em uma fúria egoísta, espancara até a morte aquele que lhe poupou, mesmo podendo tê-la considerado uma ameaça a sua filha. Lição aprendida depois do tempo certo…
Mas, volto a dizer, tudo isso se passa em um mundo paralelo, onde o aprendizado é contínuo, e todos devem crescer até certo ponto. E, não esqueçamos, até mesmo a eternidade é relativa… E o ciclo sempre tenderá a sua forma mais estável…
A união do início e do fim